Era o ano de 1889, a Revolução Francesa comemorava seus 100
anos, a Inglaterra mantinha-se como Potência Industrial e Militar, países de
menor expressão comemoravam a República. E na Holanda um Filósofo de livre
pensamento pensava. Pensava sobre tudo e sobre nada, pensava sobre a Morte e
sobre a Vida, buscava explicações à
efemeridade da felicidade, queria entender o porquê de tantas mortes e de tanto
ódio, queria entender o mundo, mas a si mesmo não entendia.
Sobre o Amor dizia: “Não
amo, o amor está banalizado. Tornou-se uma pratica meramente
política-financeira, o Amor está morto ,assim como para Nietzsche Deus está, o
que sobrou foi apenas a conformidade”.
Sobre o Capital era ainda mais critico: “Uma Sociedade em que uma nota de
papel tem mais valor que a carne e o osso de um Homem, não pode existir, não
deve existir. Estamos condenados a auto aniquilação, deturpamos tudo que nos é
dito, a Igualdade é determinada pela condição financeira do ser. Fraternidade?
Faz-me rir só se a prática de matar
irmãos for comum. Liberdade, só a econômica já que vivemos presos a necessidade
de ter para ser, não somos seres livres para ir e vir, somos diariamente
castrados pela nação que se conclama nossa Mãe, e pelos cidadãos dela que se
conclamam nossos irmãos”.
Seus amigos eram só criticas, diziam que ele morreria no
frio, sozinho e amargo, reclamando da vida que poderia ter tido. Ele ria e
pouco se importava. Melhor morrer sabendo que está sozinho, do que viver na
ilusão da companhia pensava. O povo da cidade criava todos os tipos de boatos
sobre ele, se tudo que diziam fosse verdade seria ele psicopata, lobisomem,
gay, louco ou simplesmente um sem coração. E ele ria mais pensando, não sou
nada disso sou apenas um Filósofo.
Sua casa tinha uma arquitetura clássica, o único capricho
que sua herança lhe permitiu. Dentro era simples, 2 andares, uma sala espaçosa
para receber os amigos, uma cozinha para fazer comida quando se lembrasse que
comer era necessário, um escritório com vista para os campos de flores, nele
haviam quantidades exorbitantes de livros, uma escrivaninha e uma maquina de
datilografia para escrever seus pensamentos. Seu quarto era ocupado por uma
cama, um armário para roupas e por uma cabeceira. Seus amigos ficavam
horrorizados, como o homem mais rico da cidade vivia com tão pouco, e ele
apenas lhes dizia: “viva apenas com um necessário”.
Mas um dia todas as convicções do Filósofo foram postas a
prova, andando pela cidade, ele a viu, apaixonou-se a primeira vista, pensou
ele: “como pode haver no mundo algo tão belo e não pertencer a mim?”. Não era
uma mulher se é isso que pensaste, nem mesmo um homem, era uma Joia, uma
pequena e simples Joia. Um cordão prata com um pingente verde, esse pequeno
item foi capaz de balançar a vida do Filósofo. Como somos pequenos pensaria
ele, mas não podia pensar, pois necessitava da compra. Adentrou a loja,
anunciando que iria comprar o item, independente de preços. E ouviu como
resposta: “Aquele colar tem valor
sentimental senhor, não posso vende-lo. Mas como ele serve de demonstração
temos outros parecidos. “. Há quem diga que o grito de não bradado pelo
Filósofo acordou todos que ainda dormiam, ele repetia que era aquele colar o
qual ele necessitava e que não importaria de pagar o preço que fosse. Entretanto
a vendedora foi irredutível. E ele teve que sair da loja sem colar e sem moral.
Naquela noite sonhou, que via um Ser na completa escuridão.
Pensava ele: “Como é pequeno, morre de medo e nem sabe do que, não consegue
viver a vida, apenas existe. Ó Criatura Miserável, cheia de quereres, vive o
prazer efêmero e por isso sofre.”.
Todavia, filósofo que era quis analisar o Ser mais de perto, estava completamente nu, era sujo e pequeno. Forte
foi o choque do Filósofo quando reconheceu o Ser. Aquela criatura miserável era
ele próprio, a escuridão não era desconhecida, pois estava na sua própria casa.
O que lhe faltava então? O que tornava sua vida tão miserável? A maldita Joia.
Passaram se semanas, e todo dia o Filósofo ia a loja tentar
compra-la. E toda vez tinha a mesma resposta.
Se ele era estranho para a população tornou-se insano, um verdadeiro
louco diziam, se era excêntrico para seus amigos tornou-se um estranho, mas
pouco lhe importava os achismos dos outros, o que o corroía na verdade é que
ele mesmo não sabia o que tinha se tornado, logo ele O Filósofo.
Sem saber o que fazer e cansado de sonhar com sua pequenez,
resolveu O Filósofo consultar seus amigos, sua raiva só aumentou falavam apenas
o óbvio. É incrível o poder de corrupção mental do dinheiro, dizia. Vivem tanto
no mundo das ilusões românticas que não sabem mais como dar vida as boas
ideias. E nesse seu estalo de simpatia, surgiu-lhe uma ideia.
No dia seguinte, voltou à loja. A vendedora cansada dele,
nem permitiu que ele começasse e disse que não venderia por preço nenhum. Em
resposta falou o Filósofo: “Não ofereço a ti dinheiro, pois dinheiro nenhum
compra um verdadeiro sentimento. Trago-te uma ideia.”. Assim o Filósofo deixou
um pedaço de papel e se foi. Quando tinha começado a adormecer batem na porta. Era a vendedora, que trazia a
Joia, disse que havia ficado emocionada com o texto e que não gostaria de
sentir-se culpada e, portanto estaria dando a Joia para ele.
A Joia tornou-se para aquele Homem um amuleto, não de sorte,
ele era filósofo e sorte não existe. Mas um amuleto que o lembrava de quão
humano era. A Joia representava todas as criticas que ele havia feito para a
humanidade, para a cidade, para seus amigos sem perceber que criticava sempre a
si mesmo. No fim casou-se com a Vendedora, acomodou-se na vida de casado, além
do mais era “carnuda” o suficiente para satisfazer seus desejos, teve uma filha
a quem deu o nome da pedra.
O texto que comprou a Joia tornou-se uma tese que o fez
famoso. Afirmava que os Humanos são os Seres dos desejos, desejamos até o nosso
minuto final, desejamos um suspiro a mais ou até mesmo a paz eterna. Mas sempre
desejamos, sem o desejo nada somos. No
texto terminava dizendo: “Desejo esta Joia, assim como um doente o destino, os
amantes seus corpos, o faminto a comida, ou o caminhante do deserto a gota
d’água. Desejo essa Joia, mas não pela sua beleza ou pelo seu preço, a desejo
pelo seu significado, ela significa minha humanidade. E Eu desejo Ser Humano”.
Dito isto, a pergunta continua são os Filósofos todos
humanos? Ou todos os Humanos são filósofos.
João V. 02/07/2013
João V. 02/07/2013
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